CUSTOS DE APLICAÇÕES DE FUNGICIDAS POR VIAS AÉREAS E TERRESTRES EM GRANDES CULTURAS
O uso de fungicidas para proteger as culturas contra doenças é viável quando os agentes causais das doenças são sensíveis aos mesmos, quando esses apresentam segurança do ponto de vista ambiental e quando a sua aplicação proporciona retorno econômico. Ao utilizar um fungicida, o agricultor está se propondo a fazer um “seguro” para a sua lavoura, com vistas a garantir a produção, porém o resultado positivo vai depender das combinações entre uma série de fatores que atuam conjuntamente no campo. Por outro lado, a utilização de fungicidas implica três novos itens na planilha de custos de uma lavoura: o custo dos produtos aplicados, o custo das operações de aplicação e o custo por dano de amassamento causado pelo tráfego das máquinas aplicadoras no campo. Em muitos casos, o custo equivalente ao amassamento assume proporções importantes. Uma alternativa para a sua redução ou eliminação pode ser a aplicação dos fungicidas por via aérea.
No texto que segue, serão apresentados e discutidos alguns estudos de casos, nos quais foram comparados os custos e os benefícios de aplicações de fungicidas por via terrestre e por via aérea nas culturas de trigo, milho e soja.
TRIGO
O primeiro estudo de caso refere-se a utilização do fungicida Nativo(tebuconazol + trifloxistrobina) em trigo. Duas aplicações com intervalo de 22 dias por via terrestre(volume de calda de 160 L/há) foram comparadas com duas aplicações por via aérea(atomizadores rotativos de tela- aplicações em baixo volume com adição de óleo -BVO- a 10 e 15 L/há e barra com pontas de energia hidráulica aplicando volume de 30 L/há). O fungicida Nativo foi aplicado na dose de 0,5 L/há, sendo acrescido do adjuvante Áureo(éster metilado de óleo de soja) na concentração de 0,5% v/v nas aplicações por via aérea e de 0,5 l/há nas aplicações por via terrestre. Para aplicar os tratamentos com volume de calda de 10 e 15 L/há (BVO) por via aérea, foi acrescentado 0,5 L/há do óleo vegetal emulsificado Agróleo(éster de óleo vegetal).
O tratamento com BVO e volume de 15 L/há proporcionou rendimento de grãos superior á aplicação por via terrestre, que se igualou estatisticamente com o tratamento BVO a 10 L/há e superou o tratamento por via aérea com barra e volume de calda de 30 L/há. Cabe considerar que a testemunha que não recebeu aplicações de fungicida produziu 1.266 kg/há.
O rendimento de grãos obtido com as pulverizações por via aérea BVO a 15 l/há foi de 3.428 kg/há (548 kg/há superior as aplicações por via terrestre) o que equivale a um ganho de 9,13 sacas de 60 kg de trigo por hectare. Tomando o preço do trigo como R$ 25,00 por saca de 60 kg, isso corresponde a R$ 228,25/há. Assumindo que a pulverização por via aérea com a técnica de BVO custa R$26,00 por hectare, que o custo de uma aplicação por via terrestre é de R$10,86/há e levando em conta que foram realizadas duas aplicações de fungicidas, a diferença estimada é de R$197,97/há a favor das aplicações por via aérea. Sob outro ponto de vista, utilizando-se a pulverização por via aérea com BVO a 15 L/há, o aumento da produção em comparação com as aplicações por via terrestre foi suficiente para pagar as duas doses de fungicida utilizadas (R$110,40/há), e ainda houve uma sobra de R$87,57/há. Ou seja, o equivalente a 3,5 sacas de 60 kg de trigo por hectare.
MILHO
Trabalhos realizados no município de Coxilha-RS, por Costa e Boller(2008), com aplicações do fungicida Opera (Epoxiconazol + Piraclostrobina) por via aérea e por via terrestre em milho, revelaram aumentos significativos no rendimento de grãos e ganhos consideráveis no resultado econômico da cultura. As aplicações por via terrestre foram realizadas por um pulverizador autopropelido marca Jacto modelo Uniport 2000, com capacidade volumétrica de depósito de dois mil litros, equipada com pneus de 0,31m de largura, com vão livre do solo de 1,30 m, operando 16 km/h e aplicando volume de calda de 140 L/há. Para as aplicações por via aérea, utilizou-se uma aeronave agrícola marca Ipanema, modelo EMB 201-A, equipada com oito atomizadores rotativos de tela, sendo o volume de calda aplicado de 15 L/há com adição de 0,5 L/há de óleo vegetal Adróleo.
No primeiro experimento, com o híbrido Pionner 32R21, o fungicida foi aplicado no estágio de espigamento do milho, havendo a ocorrência de ferrugem e helmintosporiose. A testemunha sem aplicação de fungicida produziu 6.930 kg/há. O tratamento com aplicação do fungicida operando na dose de 0,75 L/há, com pulverizador terrestre autopropelido produziu 9.072 kg/há. E o tratamento com aplicação da mesma dose do fungicida por via aéra produziu 10.690 kg/há.
O aumento no rendimento de grãos devido ao uso do fungicida foi de 2.142 kg/há e de 3.760 kg/há, respectivamente para a aplicação por via terrestre e por via aérea. No tratamento por via terrestre, os danos causados pelo tráfego do pulverizador na lavoura implicaram na redução do rendimento de grãos de 226 kg/há, valor já computado no resultado desse tratamento. Convertendo as produções de milho em moeda(R$20,00 por saca de 60kg) e levando em conta o custo do fungicida (R$61,50/há), da aplicação terrestre (R$11,00/há) e da aplicação aérea (R$26,00/há), obteve-se o resultado econômico da utilização do fungicida na cultura do milho. Os aumentos de receita obtidos devido a aplicação do fungicida foram de R$714,00/há para a aplicação por via terrestree de R$1.253,00/há, quando a aplicação foi por via aérea. Descontando- se o custo do fungicida e da aplicação, restaram ganhos econômicos de R$641,50/há e de R$ 1.165,50/há, respectivamente, para a aplicação do fungicida por via terrestre e por via aérea. Ainda, no tratamento por via terrestre, o dano causado pelo amassamento das plantas de milho pelo tráfego do pulverizador foi calculado em R$75,33/há, equivalendo- se ao custo do fungicida e da sua aplicação.
O segundo experimento foi conduzido com o hibrido Pionner 30F53 e os tratamentos com o mesmo fungicida, mesma dose e mesmo equipamentos de aplicação foram aplicados com o milho no estágio de pré-pendoamento, na presença de ferrugem. A testemunha sem aplicação de fungicida produziu 9.935 kg/há. O tratamento por via terrestre 9.980 kg/há, e o tratamento por via aérea 11.494 kg/há. Os aumentos de rendimento de grãos foram de 45 kg/há e 1.559 kg/há, respectivamente para aplicação terrestre e por via aérea. A redução de rendimento devido ao amassamento no tratamento por via terrestre, já computada no resultado do rendimento de grãos, foi de 832 kg/há, equivalendo- se, aproximadamente, ao aumento de rendimento proporcionado pelo uso do fungicida.
Neste experimento, os resultados econômicos apontam para um prejuízo de R$63,50/há e para um ganho de R$519,67/há, respectivamente para aplicação terrestre e aérea.Os dois trabalhos demonstram os danos causados pelo tráfego de um pulverizador autopropelido e as vantagens da pulverização por via aérea na cultura do milho, quando essas são realizadas em estágios próximos ao pendoamento ou logo após, quando normalmente os fungicidas apresentam maior efeito de controle das doenças.
Desta forma, desde que seja utilizada tecnologia de aplicação adequada, verifica-se que a utilização de aeronaves agrícolas para pulverizações de fungicidas em culturas que se encontrem em avançados estágios de desenvolvimento(em especial após a floração) pode proporcionar economia e importantes ganhos econômicos aos produtores rurais.
SOJA
Na cultura da soja, demonstrou que o tráfego do trator com pulverizador montado e barra de 14m reduziu o rendimento de grãos de 3,82% ou seja, 156 kg/há, o que equivale a R$130,00/há. Neste experimento, o custo de dois tratamentos com fungicida Priori Xtra(azoxistrobina + ciproconazol) foi de R$ 100,80/há, o custo das aplicações por via aérea dói de R$ 52,00/ha e das aplicações por via terrestre R$ 21,72/há.
Computando-se as despesas (fungicida+aplicação+amassamento) com os dois tratamentos químicos, chegou-se a R$152,80/há quando foi utilizada a aeronave agrícola e a R$282,80/há com a aplicação por via terrestre. Na aplicação por via terrestre, o custo do fungicida corresponde a 35,64% do total, o custo da aplicação 7,68% e o custo equivalente a redução do rendimento de grãos devido ao amassamento 45,97%. Os resultados do trabalho mostraram, ainda, que todos os tratamentos proporcionaram rendimento de grãos significativamente superior á testemunha, evidenciando a eficiência do produto aplicado e da tecnologia de aplicação.
Computando-se o aumento do rendimento de grãos devido ao tratamento químico e o custo dele,observou-se que em ambos os casos, a utilização do fungicida foi uma prática economicamente sustentável, porém as aplicações por via aérea proporcionaram um ganho líquido de R$375,00/há, enquanto que as pulverizações por via terrestre tiveram um ganho de R$263,00/há, indicando uma superioridade de R$112,00/há no resultado econômico quando se utiliza a pulverização por via aérea.
Schroder(2007) comparou uma aplicação de fungicida em soja por via terrestre com uma aplicação por via aérea. No momento da aplicação do fungicida (segundo tratamento), a soja apresentava estatura de 1,10m encontrando-se na fase de formação de vagens. Os resultados evidenciaram que os equipamentos não influenciaram o controle das doenças, sendo avaliadas as doenças de final de ciclo e ferrugem asiática da soja.
A naálise do rendimento de grãos revelou um ganho de 4,6% (102 kg/há) quando a pulverização foi realizada por via aérea em relação a terrestre. Para análise econômica, o autor adotou o custo da pulverização por via aéres de R$22,00/há e por via terrestre de R$11,00/há. O preço da saca de 60kg de soja foi de R$28,00 e o dano decorrente do amassamento da cultura pela roda do pulverizador automotriz foi de R$47,60/há.
O custo da operação de pulverização terrestre somado ao custo do amassamento foi de R$58,60/há, enquanto que o custo da aplicação por via aérea, por não ocorrer amassamento foi de R$22,00/há. A diferença foi R$36,60/há a favor da aplicação por via aérea, demonstrando novamente a vantagem desta técnica de aplicação.
A aplicação aérea já demonstrou que é viável e altamente lucrativa para o produtor, passando de uma incógnita para uma tendência para quem quer produzir mais e com qualidade, então amigos a pergunta que fica,vale a pena o amassamento?
Créditos: Walter Boller
Engenheiro Agrônomo (UPF)
Mestre em Mecanização Agrícola (UFSM)
Doutor em Energia Na Agricultura (FCA-UNESP)
Professor da UPF
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